quarta-feira, 25 de maio de 2016

Morte Anunciada de um Pequeno Jardim

A confirmar-se o que já se leu e ouviu por aí, a imagem da direita é irrepetível.

O manual de (más) intenções da Câmara de Palmela para o Jardim José Maria dos Santos prevê retalhar aquele espaço de boas memórias, como aquelas operações que deixam marcas e saudades... da imagem e estado anteriores.

Há muito que o lago - peça central do pequeno jardim - constitui um problema para a autarquia, pela onerosa manutenção, pela deterioração, por ser uma sombra do que foi.

Talvez justificasse, de facto, uma intervenção - o rebordo está vandalizado, a água permanentemente suja, também muito por culpa da crescente falta de civismo das novas gerações, os jactos de água são uma memória distante e a iluminação nocturna quase mitologia - mas não nos moldes previstos.

Encurtar o lago não resolverá o que antes foi enunciado.
Pior, ao invés de solução, parece sim uma contingência para aportar uma obra desproporcionada e aviltante para os pinhalnovenses que preconizam um Pinhal Novo moderno, sim, mas inserido numa lógica em que espaços verdes e jardim não sejam vistos como meros entraves para o progresso.

Refiro-me à assombrosa ideia de transformar toda a parte norte do jardim, dando espaço para mais lugares de estacionamento e para um terminal de autocarros.

Sinceramente, custa a acreditar e não, não fui (ainda) ouvir a outra parte para confirmar (ou não) o rumor, mas a primeira das intenções é fazer deste blog unicamente um espaço que reflicta a minha opinião.

E a minha opinião, chamem-me velho do Restelo ou avesso à mudança, é desfavorável.
Não posso concordar com isto.

Uma coisa, é não achar graça a festas para a populaça, concedendo que também faz falta pão e circo (embora com acento tónico no segundo, pelos vistos), outra é concordar com o esventramento de um jardim que é o único pequeno pulmão do Pinhal Novo.

Não que estejamos cercados de fábricas e esgotos a céu aberto, mas uma vila quase cidade que não valoriza espaços verdes, é uma vila só de pessoas, carros e tempo que se esgota num dia a seguir ao outro, sem fruição, talvez aqui e ali com uma festa caramela, com um ou outro foguete, ou com a enésima algazarra dos ginásios que vão para a rua vangloriar-se da sua (deles) dinâmica imparável.

Sempre classifiquei com nota alta o trabalho autárquico de Álvaro Amaro, que não deslustrou, pelo contrário, das qualidades imensas que evidenciou enquanto docente e antes de tudo, a sensibilidade enquanto ser humano de fino trato.
O período em que Ana Teresa Vicente esteve à frente da Câmara e Álvaro na Junta de Freguesia de Pinhal Novo terá sido o mais conseguido da história recente do Pinhal Novo, e nunca deixei de votar CDU por isso mesmo.

Houve e há problemas insolúveis, mas que dependem, em grande parte, da administração central.
Mas esta ideia peregrina para o jardim, sinceramente, não sei de quem saiu.

Trocar parte de um jardim, por mais ou menos luxuriante que este seja, por lugares para estacionamento, não é uma boa ideia nem para o Pinhal Novo, nem para Odeceixe, Nápoles ou Boston.

Se é importante haver mais lugares para estacionar o carro (numa vila com cada vez mais passeios ocupados por carros, sem regulação das autoridades ou da política local), então não percebo a facilidade com que se prescinde, por exemplo, do parque de estacionamento da estação, para a realização de, primeiro, uma feira de Páscoa com carrocéis, depois, um mercado caramelo e logo a seguir as Festas Popuares, acumulando semanas em que ninguém se preocupa com estacionamentos e afins.

O que está anunciado é que as obras de requalificação (?!) do Jardim José Maria dos Santos arrancarão em 2017, ano de Autárquicas, claro está.

Espero que o tempo que falta até lá seja bom conselheiro.

Se José Maria dos Santos estivesse vivo, tenho a certeza que diria "esqueçam lá a minha estátua e as obras e não estraguem o jardim do povo."


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